Somos uma região omnívora, é claro, a carne é a nossa paixão. Temos dois animais fetiche, a vitela e o porco. Por qual deles quer começar?
Se começarmos por tamanho, ganha a vaca. E em quantidade também, visto que há mais de 300.000 cabeças de gado bovino na região. Temos as de leite, mas hoje predominam as de carne. Boa parte delas estão protegidas pela IGP Ternera (vitela) Asturiana, e servem para muitas coisas para além de fazer "cachopos". O livro de receitas é amplíssimo, desde "carrilleras" com vinho de Cangas até carne guisada com batatinhas.
Dominam duas raças, a asturiana dos vales e a asturiana da montanha. Ambas produzem uma carne muito tenra e suculenta, única.
Mas também temos mais raças autóctones noutros animais. Se visitar alguma aldeia poderá encontrar, para além dos rechonchudos "pitos de caleya", a "pita pinta", uma galinha com penas de duas cores, vivaz, que está a ficar na moda em certos restaurantes. Apresenta um interesse duplo porque produz boa carne e ovos em abundante quantidade. E se olhar para as montanhas, pode tentar avistar uma oveya xalda, que permite elaborar estufados fantásticos.
O outro grande emblema da região, que fornece matériaprima para os chouriços e morcelas, é o porco, do qual também temos versão autóctone, o "gochu asturcelta", que começa a ganhar protagonismo uma vez ultrapassada a etapa em risco de extinção.
A sua carne tem uma gordura infiltrada muito interessante, o que lhe confere um grande sabor.
Se nunca comeu um cachopo, estará do lado dos cobardes, porque dizem que estes bifes panados de tamanho gigante são para valentes. Mas não se assuste, também não é bem assim. É um prato que tradicionalmente se costuma partilhar, embora também seja verdade que começam a proliferar "cachopos" mais pequenos, individuais, sendo conveniente perguntar para não se assustar. Um cachopo que se preze tem de ser elaborado com dois bifes de vitela asturiana, de preferência da zona da coxa, acém ou aba, presunto ibérico ou não, e umas fatias de queijo asturiano que não seja muito forte (os de Oscos ou de Vidiago são ideais). É panado com farinha, ovo e pão ralado, frito... e está pronto! Como dica é possível indicar que o azeite deve estar muito quente e limpo, sem aromas a outros alimentos, e não passar muito os bifes, a poder ser que fiquem cor de rosa por dentro.
Com os porcos elaboramos tantas coisas, tantas, que não teríamos páginas suficientes, sendo, portanto, breves, que saibam que fazemos "chosco, picadinho, longaniza" (típica de Avilés), "moscancia" (parecida com a morcela mas com sebo de vitela ou de borrego), "sabadiego" (chouriço com alma de morcela cujo feudo é Noreña), "emberzao" (folha de couve galega enchida com uma variante da morcela misturada com farinha de milho), "butiellu" (enchido de carne de costela com osso), "andoya" (elaborado com lombo inteiro ou da parte dianteira), "xuan" (morcela à qual se acrescenta abóbora), e poderíamos continuar com o "fariñón de Candás", o "pantruque, probe, bolla, boronchu"... ou seja, que fome aqui não vai passar.
A Indicação Geográfica Protegida Ternera Asturiana, que acaba de festejar os seus 17 anos, conseguiu dotar a seu rótulo de qualidade de um prestígio admirável. A sua carne é procurada nos melhores talhos das principais cidades do país. Para ser uma autêntica vitela asturiana tem de ter nascido na região, pertencer ao clube das raças escolhidas, Asturiana dos Vales ou Asturiana da montanha, ter entre 12 e 18 meses, apresentar características morfológicas muito concretas e ser tremendamente saborosa, porque a grande virtude desta carne é a sua textura e tenrura. São vacas jovens, com pouca gordura, sendo por isso muito saudáveis.
O "Chosco de Tineo" é o nosso segredo melhor guardado, um produto derivado do porco que contém pelo menos 15% de língua e muito da parte dianteira. Pode ser comido fresco ou cozido, sempre condimentado com colorau.