Rota da Via da Prata

Uma estrada com o nome de um general romano, as termas romanas e a muralha romana de Gijón/Xixón, a villa romana de Veranes, a ponte romana de Cangues d' Onís/Cangas de Onís, a exploração do ouro nas Astúrias ocidentais, o acampamento romano de La Carisa....e tantas outras referências do nosso património coletivo, para além dos aspectos imateriais sociolinguísticos e culturais... mostram-nos que esta pegada romana é ampla e profunda e, o que é mais interessante, que o viajante contemporâneo pode rastre á-la e desfrutá-la.

O Império destacou-se pela sua capacidade logística para o desenvolvimento de infra-estruturas de engenharia civil e de construção. De facto, os romanos traçaram as primeiras "auto-estradas" do mundo antigo na Europa Ocidental, e a Hispânia não foi exceção. Para chegar ao norte da Península Ibérica, utilizaram como ponto de referência antigas estradas ou caminhos que outros tinham utilizado nos séculos anteriores. Um norte de difícil acesso para as legiões romanas, no qual se encontravam as Astúrias: escarpado, verde, rico, de valor estratégico e de uma beleza inesperada e virginal.

Nem mais nem menos que este foi o panorama que as poderosas tropas romanas encontraram no seu imparável avanço territorial, e assim nasceu uma grande via de comunicação que unia a costa cantábrica com as terras do sul da Hispânia, uma grande estrada romana que entrava nas Astúrias através da Via Carisa, cujo nome deriva do nome do general romano que a promoveu - Publius Carisius -, e cujo objetivo era ligar os assentamentos militares das terras leonesas ao mar Cantábrico. Publius Charisius realizou o seu sonho e as suas "legiões" banharam-se no golfo da Biscaia. Os imperadores Augusto, Trajano e Adriano também realizaram o seu: aquela estrada primitiva e as suas extensões naturais seriam uma das mais movimentadas de todo o Império e por ela passariam não só soldados, mas também mercadorias, comerciantes, viajantes e com eles a cultura, a língua e, em suma, a essência romana?

O Império acabou, mas o sonho da comunicação entre culturas sobreviveu e durante toda a Idade Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea a estrada continuou a ser utilizada, tendo sido percorrida pelos árabes - que lhe chamaram Rota da Prata - e também pelos cristãos, e assim sucessivamente durante séculos e séculos até aos nossos dias, em que a Rota da Prata é um dos itinerários culturais europeus mais importantes do continente, juntamente com o Caminho de Santiago.

Em Astúrias são muitos os lugares, as paisagens, as actividades e os momentos de ócio que se podem desfrutar nos arredores da Rota,assim como a satisfação de percorrer um itinerário cheio de história e de experiências, recriando o sonho daqueles que construíram um Império e um belo dia o encontraram para avançar para o norte, e chegar a uma costa de falésias impossíveis e um mar azul e revolto, tinham de atravessar uma terra verde como uma esmeralda, fértil como uma metáfora bíblica, de gente corajosa, nobre e rebelde que hoje investiga, mostra e vive o seu período de romanização como um dos mais interessantes da sua história?

Uma aproximação à Rota da Prata nas Astúrias leva-nos a lugares como Lena, Aller, Mieres, Riosa, Morcín, Ribera de Arriba, Llanera e Gijón, cidade que é o ponto mais setentrional desta rota romana, que na sua parte meridional começa em Sevilha (Andaluzia) e passa pela Extremadura, Castela e Leão, até chegar ao Paraíso Natural.