Cidade Laboral da Cultura

A Cidade Laboral da Cultura, declarada B.I.C. (Bien de Interés Cultural), situa-se num pequeno promontório do vale de Cabueñes. Tendo em conta a forma natural do terreno e a direção dos ventos, o arquiteto optou por dispor o edifício de tal forma que o seu acesso se faz no sentido contrário ao que pareceria lógico, tendo Gijón como ponto de partida.

A torre do portão da fachada principal, com o seu arco de entrada encimado em forma de torre, faz lembrar os arcos triunfais romanos. Sobre o arco semicircular foi colocado um escudo com águia, jugo e flechas apoiado por dois anjos, aludindo aos brasões e escudos que se encontram nas fachadas das casas e palácios renascentistas. As dimensões do arco de entrada são maiores do que as do arco inferior que liga o átrio à praça. Esta é uma forma de realçar a entrada e, ao mesmo tempo, criar um efeito visual peculiar.
A diferença de altura dos arcos altera a nossa perceção do espaço, fazendo com que o comprimento do átrio pareça maior do que na realidade é. Logo após o portão da torre encontra-se o Átrio Coríntio. Trata-se de um pátio retangular rodeado por colunas de granito de dez metros e meio de altura. A disposição do pátio cria um contraste vivo entre as massas imponentes das colunas e a pequena abertura que estas deixam no seu centro, aberta para o céu.

É de notar que o pátio de entrada está disposto à maneira de um "átrio coríntio", tal como descrito pelo arquiteto romano Vitrúvio no século I a.C. e concebido pelo arquiteto renascentista Palladio no século XVI para o Convento da Caridade em Veneza. É de salientar que as dez colunas do átrio coríntio, bem como as quase cem colunas que se encontram espalhadas pelo edifício, não suportam praticamente qualquer carga. O pátio central da Laboral Ciudad de la Cultura, enquadrado numa arquitetura de estilo herreriano, tem um grande espaço aberto de 150 metros de comprimento por 50 metros de largura, capaz de acolher grandes multidões.

Funciona como um espaço "descongestionante" para o pessoal dos vários edifícios e, ao mesmo tempo, como um espaço adequado para grandes reuniões. No pátio central, como nas antigas praças espanholas, estão agrupados os edifícios mais representativos do complexo: torre, igreja, teatro, direção e salas de aula. Trata-se, portanto, de uma passagem obrigatória, o verdadeiro coração do edifício, que se organiza à maneira de uma pequena cidade autónoma, em que cada uma das suas partes forma um conjunto harmonioso.

A torre, devido à sua dimensão e visibilidade, tornou-se o símbolo mais proeminente da Cidade Laboral da Cultura. Nos projectos iniciais, adoptou basicamente a forma das torres sineiras das igrejas, embora estivesse separada da igreja. Posteriormente, as secções superiores foram estilizadas, ganhando altura e, assim, independência da igreja. A torre é constituída por cinco corpos sobrepostos de base quadrada, encimados por dois de base circular. A igreja é, sem dúvida, o edifício mais espetacular do conjunto arquitetónico.

Vários estilos e elementos, bem como as soluções mais arrojadas, são reunidos em torno deste edifício para criar um conjunto compacto e harmonioso. Na sua fachada, existem sete grandes nichos e uma galeria em forma de anfiteatro que assenta sobre as abóbadas e percorre todo o perfil da igreja. A entrada situa-se no nicho central. No lintel da porta encontra-se uma imagem da Virgem de Covadonga. O interior dos nichos é decorado com colunas duplas flutuantes de cada lado, encimadas por uma arquitrave em arco barroco que se fecha sobre a treliça.

A planta da igreja é elíptica, com eixos de 40,8 metros por 25,2 metros e uma superfície de 807 metros quadrados. As suas grandes dimensões estão de acordo com o fim a que se destina: a frequência de cerca de mil alunos e respectivos professores. Tal como os modelos que a inspiraram (as primeiras basílicas cristãs latinas construídas em Roma), a igreja tem um altar baldaquino, presbitério, arco triunfal, ambões, coro de cantores, uma nave ampla e galerias superiores.
A transformação das naves rectangulares do modelo primitivo numa elipse deve-se à necessidade de dispor de um espaço amplo com boas condições visuais e sonoras e, por outro lado, de manter uma disposição unitária e simbólica dos espaços.

Juntamente com a igreja, o teatro é a peça de arquitetura mais interessante e original de todo o conjunto. Esta fachada, concebida segundo os modelos helenísticos, é composta por duas secções, sendo a superior constituída por uma colunata coríntia e a interior por colunas toscanas. A sua altura e largura são aproximadamente as mesmas que as do Partenon de Atenas. Foi modelado a partir da Porta do Mercado de Mileto e da Biblioteca de Éfeso, embora seja verdade que existem elementos que se afastam destes padrões, como a treliça do corpo superior e as portas de acesso à varanda presidencial.

Coroando o frontão central do teatro está um grande brasão de armas de Espanha, obra de Manuel Laviada, com 7,80 metros de largura por 5 metros de altura, composto à semelhança dos acrotérios centrais dos templos, cujas representações só chegaram até nós através de algumas peças numismáticas e pictóricas. É constituído por uma águia imperial que segura nas suas garras um escudo que forma todo o seu peito. Na parte inferior, dois troncos estilizados sustentam a canga à direita e as cinco setas à esquerda. Todo o conjunto assenta sobre uma grande concha, ladeada por dois vasos sobre pedestais que suportam os ramos em forma de palma.

Em La Laboral existem pequenas áreas isoladas que, devido às suas particularidades estilísticas, diferem em maior ou menor grau do carácter geral do conjunto. Em alguns casos, estas diferenças são o resultado das contribuições de outros arquitectos, noutros são o resultado de uma experimentação formal. Um exemplo claro é o pátio barroco. A planta oval deste pequeno capricho arquitetónico, bem como a distribuição dos corpos e a coroa elíptica que coroa o beiral, remetem-nos para o barroco italiano e, em especial, para Borromini.