Descubra San Pedro de Nora, arte pré-românica no Camín Real de la Mesa

San Pedro de Nora, no município central de Las Regueras, é uma das igrejas mais representativas da arte pré-românica. Destaca-se pela sua simplicidade e, ao mesmo tempo, pela sua monumentalidade. As suas paredes são um sólido testemunho da espiritualidade de uma época. A sua localização estratégica no Camín Real de la Mesa (caminho capital entre Astúrias e Leão desde os romanos) fez com que fosse procurada pela aristocracia e pelo clero da época.

A igreja está situada a poucos quilómetros de Oviedo, para onde o monarca tinha transferido a corte do Reino das Astúrias. A maioria dos estudos datam a construção deste templo na época de Alfonso II (século IX), assim como outras jóias pré-românicas como San Julián de los Prados ou Santa María de Bendones.

Em San Pedro de Nora, cada pedra, cada arco, cada cavidade, constrói uma história de outro tempo e convida-nos a olhar para além do óbvio. No exterior , a igreja é esguia e robusta. A alvenaria das suas paredes testemunha a perícia dos antigos pedreiros. Ao longo do perímetro, contrafortes alternados erguem-se como braços protectores desta fortaleza, uma referência da arquitetura pré-românica nas Astúrias.

O acesso à igreja faz-se através de um vestíbulo e de uma porta com lintel que serve de limiar a um mundo transcendente de magníficas simetrias. Os tectos altos predispõem-nos para o místico, a atmosfera fresca abana-nos. Todo o interior oferece uma grande sensação de profundidade. Com uma forma trapezoidal, o espaço estreita-se à medida que avançamos ao longo dos seus 18 metros de comprimento. As dimensões de San Pedro de Nora são modestas, mas as suas proporções são quase perfeitas.

Tem uma planta basilical com três naves. A nave central é a mais alta e a mais larga, separada das naves laterais por pilares quadrangulares sustentados por arcos de volta perfeita. A cabeceira da igreja é coroada por três absides contíguas, uma por nave, iluminadas pela luz evanescente de três pequenas aberturas gradeadas. A janela maior do pórtico e outras aberturas nas naves laterais fornecem outros pontos de luz para uma iluminação suave e natural. Uma atmosfera equilibrada que transforma cada canto num poema de formas e sombras.

O templo gozou sempre de uma localização privilegiada na confluência dos rios Nora e Nalón. Esta zona foi povoada desde o Paleolítico e é atravessada pelo Camín Real de la Mesa, que desde tempos remotos liga as Astúrias à meseta castelhana. Além disso, está muito próxima do trajeto do Caminho Primitivo de Santiago. Um caminho inaugurado por Afonso II, o Casto, que se tornou o primeiro peregrino da história.

No século IX, foi uma aristocracia rural, e não o monarca, que promoveu a sua construção para legitimar a sua autoridade nesta zona. Séculos mais tarde, seria o clero a tirar partido da sua localização, controlando a passagem de mercadorias neste importante cruzamento, cobrando direitos e dízimos.

A igreja foi submetida a uma manutenção contínua para garantir a sua preservação como património histórico. Foram implementados sistemas para drenar a água e evitar a acumulação de humidade nas suas fundações, um dos principais problemas que enfrentava.

Tudo parece indicar que, junto ao corpo da igreja, existiam duas capelas de dois pisos, talvez quartos ou aposentos. Poderiam ter servido de retiro para ascetas, ou de abrigo ocasional para nobres ou monarcas. Na realidade, a função original deste local ainda não é totalmente conhecida.

San Pedro de Nora não teve uma história pacífica. Em 1905 sofreu um incêndio devastador e anos mais tarde foi parcialmente destruída durante a Guerra Civil. A reconstrução foi obra do arquiteto Luis Menéndez Pidal, que nos anos 60 tomou a liberdade de erguer uma torre sineira junto à igreja. Fê-lo respeitando os cânones pré-românicos, num local onde argumentava existirem alicerces de uma antiga estrutura ou torre. Estudos arqueológicos mais recentes não conseguiram confirmar este facto.

Se procura uma viagem no tempo, visite San Pedro de Nora e deixe-se envolver pela sua beleza austera. A arte e a história convergem aqui de tal forma que se conectam diretamente com as raízes mais profundas da cultura asturiana. E tudo isto no magnífico cenário natural do rio Nora.