San Andrés de Bedriñana, legado pré-românico no vale da sidra

Na paróquia de Bedriñana, no concelho de Villaviciosa, existe uma igreja emblemática que encarna a evolução da arquitetura religiosa nas Astúrias. É uma peça chave para compreender a transição do pré-românico asturiano para o românico rural. Apesar das alterações que sofreu ao longo da Baixa Idade Média e da Idade Moderna, conserva a sua essência medieval. Foi declarado Monumento Nacional em 1931.

Astúrias foi um enclave chave na resistência aos avanços muçulmanos, e a arquitetura da época reflecte esta situação através de templos de aspeto fortificado e de pequenas dimensões. É o caso do aspeto original de San Andrés de Bedriñana. O seu núcleo duro pré-românico manteve-se praticamente intacto, permitindo aos historiadores reconstruir a sua história e evolução.

Embora não existam provas materiais conclusivas, o topónimo Bedriñana sugere uma continuidade de povoamento desde a época romana. A igreja que leva este nome estende as suas raízes até à sua fundação, provavelmente em finais do século IX. A sua construção, promovida pela nobreza instalada neste enclave (originalmente "Villa Vidriniana"), imitou o estilo da igreja vizinha de San Salvador de Valdediós.

A primeira referência documentada a San Andrés de Bedriñana data de 1023, quando é mencionada na consagração de outra igreja de Villaviciosa: San Salvador de Fuentes. Uma inscrição regista a doação da vila de Bedriñana e dos seus bens por parte de Diego Pepici e da sua mulher Mansuara; um claro exemplo de como as elites locais asseguravam a sua influência através do patrocínio eclesiástico. No século XII, a igreja foi colocada sob a tutela de San Salvador de Priesca, como se pode ler no "Liber Testamentorum", um códice medieval conservado na Catedral de Oviedo.

As restaurações realizadas na igreja de San Andrés de Bedriñana desempenharam um papel fundamental na conservação da sua estrutura e dos seus elementos arquitectónicos mais antigos. Ao longo dos séculos sofreu múltiplas transformações que, ao mesmo tempo que acrescentaram valor histórico e artístico, modificaram a sua configuração original. Foi necessário um rigoroso processo de análise arqueológica para compreender a sua evolução e estabelecer os critérios de conservação mais adequados.

Entre 2002 e 2004, foram efectuadas escavações que identificaram com precisão os vestígios genuínos do edifício, trazendo à luz vestígios que tinham ficado escondidos ou alterados por intervenções posteriores. As restaurações de 2005 conseguiram devolver ao templo um aspeto mais fiel ao seu desenho medieval, confirmando a sua relevância no conjunto da Arte Pré-românica asturiana.

O seu desenho combina elementos originais com alterações posteriores que reflectem influências românicas e barrocas. Estas transformações evidenciam a adaptação da igreja às necessidades litúrgicas e estéticas de cada época, enriquecendo a sua fisionomia com base na sua construção original.

Os muros de San Andrés de Bedriñana conservam a arte pré-românica. A sua nave única, de planta retangular e cabeceira reta, partilha estilo e proporções com a nave central da igreja de Priesca, construída na mesma época. O teto original, provavelmente de madeira, assentava sobre mísulas, algumas das quais ainda se conservam.

Na fachada ocidental, uma treliça magistralmente esculpida domina o conjunto. Desenrola-se com ramos fluidos e harmoniosos ao estilo andaluz. O seu desenho é ainda mais requintado do que o da treliça meridional de San Salvador de Valdediós, que parece ter-lhe servido de inspiração. As janelas das paredes norte e sul também seguem um desenho caraterístico: pequenos arcos de ferradura enquadrados por uma moldura decorativa. A fachada da igreja conserva outro elemento original da sua construção medieval primitiva: o portal ocidental, formado por um lintel e ombreiras monolíticas não decoradas, seguindo o modelo típico da época.

Escavações arqueológicas revelaram a existência de enterramentos no interior do templo, indicando uma utilização funerária desde a sua fundação. Entre os achados encontram-se dois enterramentos de crianças na abside. A datação por radiocarbono situa a sua idade entre os séculos VII e IX, o que reforça a cronologia medieval desta construção.

O tempo não passou em vão nesta igreja, que foi quase totalmente remodelada ao longo da sua história. Na época medieval dos séculos XII e XIII, foi-lhe acrescentado um portal românico e um arco triunfal; mais tarde, na época barroca, a sua capela-mor original foi sacrificada para construir a capela da família Valdés Sorribas. Na capela-mor foram reutilizadas algumas das suas mísulas originais, e novas estruturas envolveram a igreja original: capelas, sacristia e casa capitular.

O campanário de San Andrés de Bedriñana é uma estrutura acrescentada no século XIX. De estilo barroco, tem duas aberturas para os sinos e uma cobertura triangular com frontão. A sua construção obrigou a elevar o muro de empena e, durante esta intervenção, a treliça pré-românica, que se encontrava originalmente sobre o portal, foi deslocada para uma posição mais elevada.

Esta visita cultural é uma excelente oportunidade para visitar outros monumentos históricos da zona, como San Salvador de Valdediós.